Feitos de Estrelas

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Lauro Müller, SC, Brazil
FEITOS DE ESTRELAS

domingo, 15 de dezembro de 2013

Os Intervalos

(16/12/2013)

A cada ano que passa sinto que eu fico cada vez 
mais parecido com o meu pai. E desta vez, em algo
bem interessante, apesar de eu ainda não ter
adquirido isso por completo.

Sempre em um debate, ou uma discussão, ou uma 
troca simples de opinião, ou até mesmo na hora de 
dar um sermão, antes do meu pai soltar o verbo, 
ele para, pensa, reflete, abaixa a cabeça, olha pra 
mesa... pra só depois falar. 
É como se ele estive organizando as palavras 
certas, buscando e deixando as palavras e as 
ideias de uma maneira mais compreensível possível.

Mas talvez não seja só isso.

Talvez ele pense muito bem no que vai falar pra não
sair alguma besteira que venha a machucar ou ofender 
alguém. Ou quem sabe ele conta até dez pra não 
perder a paciência. Ou talvez ele pense em tudo 
isso ao mesmo tempo!
Bom, eu não sei ao certo. Seja qual for o 
motivo, acho isso muito positivo e curioso.

Nesses intervalos de pensamento entre o "ouvir" e
o "falar" ele sempre demora mais que o comum. 
Mas sempre fala. 
E talvez por isso ele se sai muito bem, em todas
as conversas.

Acho que uma das características mais importantes 
de uma pessoa que saiba dialogar seja exatamente isso.

Os intervalos.

Certa vez, quando criança, eu estava na sala 
com o meu irmão quando começou uma 
discussão na cozinha, e meu pai estava no
meio. 
Houve um intervalo de silencio e a gente já 
sabia o que viria a seguir. 

“Eu gosto quando o pai fala", meu irmão disse.

E das minhas memórias da infância, essa talvez 
seja uma que eu não vou esquecer.


Que os meus intervalos sejam cada vez maiores, 
independentemente do tipo de conversa.


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Ramom Martins de Medeiros

domingo, 8 de setembro de 2013

Como se fosse ontem

(08/09/2013)


Lembro como se fosse ontem
Caminhando em direção a minha casa.
Distraído.
Escutei uma voz me chamando.
Mesmo de costas, soube quem era.
Apesar do tempo.
Apesar do medo.

O mesmo timbre.
O mesmo tom.
A mesma harmonia.
Embora um refrão triste.

Olhei pra trás lentamente.
E eu não queria estar ali
Eu realmente não queria estar ali.

Eu queria estar em ti.

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Ramom Martins de Medeiros

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Prolixo



Existem aqueles que falam demais, com
um português impecável, com pose de
gênio e com o peito estufado.
Mas não dizem nada.

Mas também há aqueles que muitas
vezes não sabem conjugar um verbo
ou até mesmo se confundem um pouco
com as palavras, mas dizem o que é
preciso, com sinceridade, na oportunidade
certa, na hora certa.

Estes sim dizem muito.

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Ramom Martins de Medeiros

segunda-feira, 24 de junho de 2013

O garçom e o bêbado.

(17/06/2013)

Já era perto das 2 da manhã e eu estava do lado
de fora de um bar com alguns amigos.
Fui surpreendido quando escutei umas risadas e
um leve tumulto que vinha de dentro do estabelecimento.

Um senhor, de idade não muito avançada, tinha
caído de sua cadeira e estava no chão, com um
sorriso um tanto quanto amarelado e sem graça
de vergonha.
Estava muito bêbado.

Pobre homem.

O garçom, que também fazia uma função um tanto
quanto de segurança do bar, foi a ele imediatamente
prestar amparo. Botou a mão no seu ombro, perguntou
se ele queria ajuda e ofereceu-lhe o ombro para
ele se apoiar. Caminharam até a saída do bar.

Um exemplo de garçom (ou segurança... sei la)!

Se fosse um desses qualquer, teria aproveitado
a ocasião em que estava, no centro das atenções
do público, e teria exercido sua autoridade de
modo grosseiro pra cima do senhor.

E o senhor, por sua vez, saiu do bar e seguiu
"ziguezagueando" até a sua casa.

Um exemplo de bêbado.

Quem dera todos fossem assim. Não ficou ali
incomodando ninguém e ainda pediu desculpas
pra alguns dos presentes no local.
Reconheceu que estava mal e resolveu ir embora
por conta própria.

Um raro momento de humanidade na noite.

Exceto pelos pobres de alma que soltaram umas
risadas daquele ser-humano em seu momento de
fraqueza.
Gente covarde.

Podem rir a vontade, caros.

Hoje é ele o homem que esta
precisando afogar seus problemas
e suas dores.

Amanha pode ser qualquer um de vocês!

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Ramom Martins de Medeiros

sábado, 15 de junho de 2013

Uns casos pra lá de estranhos

(13/06/2013)


Aquela mulher, com a idade mais avançada, de riso
difícil, dá umas boas gargalhadas das piadas mais
toscas se é o seu namorado que conta.

Teve um que odiava falar ao telefone, mas começou
a amar isso quando era ela do outro lado da linha.

Aquele cãozinho espera até hoje o dono e a
namorada dele saírem pra passear pela manhã.
O dono também a espera.

A moça da cidade, que odiava a brisa do
mar, passava varias tardes na praia vendo ele
surfar.
Comprou até um guarda-sol.

Todo final de semana, ele era o primeiro a sair
de casa com os amigos.
Depois do namoro, nunca mais saiu.

E o meu amigo, sempre ao voltar da faculdade
para sua casa, a primeira coisa que faz é contar
como foi seu dia pra sua esposa.
Se não conta, o dia não esta completo.

E o velho carrancudo dá bom dia até pro carteiro
quando sua amada da um sinal de vida.

O desleixado, que mal tomava banho, hoje toma
e se veste bem.
Faz até a barba constantemente, coitado.

E não da pra entender se as pessoas mudam por
causa de alguém, ou se elas simplesmente revelam
o que elas realmente  são.

Não sei.
Longe de mim falar pelos outros.
Logo eu que não me reconheci varias vezes.

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Ramom Martins de Medeiros

Texto feito com a ajuda de Heloísa Fenili, que me falou a maioria dos casos descritos aqui.

domingo, 19 de maio de 2013

Enche mais um copo


(19/05/2013)


Sair e deixar o carro na garagem.
Ainda não nos proibiram de caminhar alcoolizados, por pouco que seja.

Conversa vai.
Conversa vem.
Enche mais um copo.
Mais um... Dois... Três.
Seis... Sete... Oito.
Só dar uma pausa na hora de tocar violão.

Já perdi varias vezes a noção da hora de parar, e a ressaca foi certa como o amanhecer.
Eu mesmo já tive varias histórias.

Talvez todos nós tenhamos algo pra afogar.
Talvez todos nós tenhamos algo pra dizer.
Só não sabemos como.
Não sabemos pra quem.

Beber e manter la dentro o que realmente incomoda.
Levam-se anos pra se aprender isso.
Já outras coisas a gente nunca aprende.

Enche mais um copo, meu amigo, pois se o álcool não abrir nossas feridas de uma vez, pelo menos vai dissolver um pouco do que nós somos.

As vezes isso é tudo o que a gente precisa, não é?

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Ramom Martins de Medeiros

quinta-feira, 16 de maio de 2013

La se foi a poesia

(16/05/2013)


Varias ideias nas madrugadas
Pensei que não esqueceria
Não as anotei
La se foi a poesia.

Perdem-se em meus sonhos
Na inquietude de noites frias
Idéias que ali nascem
Acordam mortas no outro dia

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Ramom Martins de Medeiros

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Cartas no mar


(09/05/2013)


Ah, vida.


Quem dera fosses leve como a gravidade da lua

Quem dera fosses pena que voasse na rua.
Quem dera poder acreditar
Nessas cartas que a gente jogou no mar.

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Ramom Martins de Medeiros

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Mais dúvidas que certezas.


(20/04/2013)


Isso aqui não é um diário.
Muito menos um confessionário.
Talvez seja um disfarce pra desabafo.

Um grito que ninguém ouve.
Ou uma carta que ninguém lê.
De alguém que tem muito o que esquecer.

Aqui não se acha nenhum rumo, e sim um caminho incerto.
Aqui não se acha nenhuma resposta, mas sim um emaranhado de dúvidas que só o tempo responde.

Muito mais dúvidas que certezas.

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Ramom Martins de Medeiros

domingo, 24 de março de 2013

O péssimo ator


(11/03/2013)

E parece que o tempo não anda muito generoso nesses dias que nascem cinza.

É aquele anjo triste que fica sentado do nosso lado o dia inteiro, resgatando pensamentos antigos, confundindo um caminho inutilmente planejado.

Fingir normalidade na troca de palavras é quase inútil diante da ferida que se abriu.
É como se a verdade estivesse escrito na nossa testa.
Não há como disfarçar.

É dificil não ser o que somos quando sentimos os espinhos apertarem no coração.
Não da pra ser indiferente com o que é importante.

Sou um péssimo ator.

Quantos personagens ainda vamos interpretar?

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Ramom Martins de Medeiros

quarta-feira, 13 de março de 2013

Meu casaco


(??/03 ou 04?/2012)

Quando esse frio invadiu o meu casaco
Abaixo do sol que a nuvem escondia
O inverno nunca foi tão forte
Minha alma nunca foi tão vazia

Quando esse frio invadiu o meu casaco
Eu me encolhi pra me proteger dos ventos
Que não levam a tristeza embora
Nem param pra ouvir meus lamentos

Quando esse frio invadiu o meu casaco
Uma faixa de luto estendi no coração
Queria dar um descanso de seus tormentos
Queria ouvir denovo a nossa canção

Quando esse frio invadiu o meu casaco
Falaste tudo o que eu queria ouvir
Escolhi o pior remedio pra continuar
Pena eu não poder escolher o que sentir

Quando o teu abraço envolveu o meu casaco
Por uns segundos o frio se amenizou
Quem dera você ficar mais um pouco
Pois pra minha alma, éis o unico cobertor

Quando o teu abraço envolveu o meu casaco
Decidi que devo parar de me culpar
Pois se eu pudesse voltar no tempo
Sei de uma coisa que não iria mudar

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Ramom Martins de Medeiros

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

No fim


(23/02/2013)


Ela não vive em ansiedade.
Pacientemente lê um jornal e toma um café por aí, e quando menos se espera, ela escolhe a dedo quem vai e não enxuga as lagrimas de quem fica.

E quando escolhe, ela é eficaz e rápida.
Já é doutora nisso.
Não adianta pedir um tempo a mais pra dizer aos que ficam o quanto eles significam pra sua vida. Não adianta pedir um tempo pra compor mais uma canção.
Ela escolhe e você vai.

É por isso que essa presa de viver podia ser mais forte, pois o tempo corre.
Talvez eu esteja atrasado e eu nem sei que horas sai o próximo trem.
E se eu soubesse, o que faria?

Só sei que eu não quero ser escolhido assim tão cedo.
Não quero ser atingido pela foice.
Tenho tantas coisas a fazer e eu não sei de quase nada.
Dizem que a gente nunca parte no fim.

Somos feitos de estrelas, e estrelas se apagam.

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Ramom Martins de Medeiros

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

A caminho

(24/12/2012)

Na hora do café da tarde em que me deparo com a TV com centenas de canais, vejo que a famosa tela preta ainda é a melhor alternativa pra mim. Assim não há distração.
Não há canais mais importantes do que a inútil tentativa de pensar e resolver meus conflitos.

E como é bom chegar no meu quarto e ver minha cama desarrumada. Ela fica muito melhor assim, pronta pra chegar ali, deitar e trabalhar alguns rascunhos de ideias que vem a tona.
O ruim é não conseguir dormir quando isso acontece de madrugada.

Estou sempre pensando em alguma coisa e as vezes é necessário me desconectar disso.
Mas não dá!
Se os acordes pudessem falar por mim agora, tenho medo de como eles seriam.

É preciso se expressar de alguma maneira, nem que seja com um grito.
Ou um silêncio longo, e este pode dizer muito, assim como a quebra dele um dia significou perdão.

Tem coisas que falam mais alto que o orgulho, não é?
Só entende quem já se machucou.
Não tenho essa fronteira de precisão dentro de mim que separe raiva e amor. Muitas vezes eles andam juntos, e isso acaba comigo.

Fugir, mas querer reencontrar.
Fechar os olhos, mas querer ver.
Se calar, mas querer dizer algo, nem que seja um “bom dia”. Quanta diferença isso faz!
Ser rude, enquanto o que mais se quer é um abraço.
Você entende?

Tenho asas que não sabem voar, mas se soubesse, será que eu iria embora?
Você me deixaria partir?

Muitas dessas estrelas que eu vejo podem ser que nem existam mais no céu, mas ainda as vejo. A luz ainda está a caminho.

A sua luz ainda está a caminho.

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Ramom Martins de Medeiros

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013


Sem horas pra voltar
(04/02/2013)

Quando eu era criança eu queria fugir de casa, até que eu realmente o fiz: Fugi até a esquina próxima a minha casa e voltei.
Uns dias depois criei coragem e resolvi ir mais longe ainda: fui até a esquina e caminhei mais uns 10 metros, até que uma mulher conhecida da minha mãe me perguntou a onde eu estava indo sozinho e eu disse que estava fugindo.
Gênio!
Três minutos depois eu já estava em casa, mas não lembro se eu apanhei dos meus pais.

Se aquela mulher não tivesse me parado, quem sabe eu teria ido mais longe.
Sei lá, até a segunda esquina, eu acho.

Não sei porque eu tinha essa vontade de fugir. Nunca tive problemas em casa com a família, e mesmo assim, certa vez, eu coloquei fogo no porão.
Quase que a casa vira cinzas.
Minha mãe pensou que era culpa das más companhias
Minha avó pensou que era o diabo, de certo.

As vezes falta a mesma coragem que eu tinha quando fugia até a esquina nos tempos de criança.
Pode não parecer, mas era uma aventura e tanto pra aquela idade.
Hoje é tão fácil chegar até ali. As ruas são mais curtas pois meus passos são maiores, e eu posso atravessar de carro a cidade (ou quem sabe o estado) se eu quisesse.
Mas eu não vou.

Ao invés disso, saio de casa sem horas pra voltar, e essa pode ser a melhor fuga.
A melhor alternativa pra fugir de si mesmo.

Sair e deixar o coração na gaveta.

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Ramom Martins de Medeiros